sábado, 31 de janeiro de 2009
O Barbeiro mais encantador de todos !
Musical é cinema de execução, nem tanto de inspiração. Precisa ter coreografia ensaiada, marcação de cena certa, vozes afinadas. Sob esse aspecto, Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet (2007), o primeiro musical genuíno de Tim Burton
A adaptação para o cinema do musical de Stephen Sondheim, que por sua vez reescreve livremente a lenda vitoriana do barbeiro assassino, coloca Johnny Depp para interpretar Benjamin Barker, barbeiro que, depois de ser injustamente expulso de Londres e ver esposa e filha caírem em desgraça, retorna adotando o pseudônimo de Sweeney Todd para consumar sua vingança. Ao lado da quituteira Mrs. Lovett (Helena Bonham Carter, a meu ver, a melhor atriz que poderia te-la interpretado), o vingador usa a cadeira do barbeiro para assassinar seus clientes, enquanto ela pega os restos mortais para assar tortas que viram a sensação de Londres.
O que a crítica pesa é se o filme cumpriu ou não aquilo que propunha, e Burton executou o plano notavelmente.
Primeiro, porque o roteiro adaptado por John Logan cria um zigue-zague entre os dois núcleos dramáticos (barbeiro/quituteira, marinheiro/donzela) que não dá muito espaço para tempos mortos. Quando Todd e Mrs. Lovett terminam de cantar uma passagem importante de sua cumplicidade, a trama corta para uma música dos dois jovens enamorados, e assim por diante. Não há canções "sobrando", uma vez que quase todas impulsionam a trama adiante. Com isso, o filme ganha agilidade e, em certa medida, os números musicais de cada núcleo cansam menos (porque vêm intercalados).
Além da artimanha de roteiro, há de se louvar a excelência técnica. Algumas cenas - ou, já que estamos falando de musical, alguns números - servem de modelo. A montagem e a edição de som no primeiro encontro de Todd com o juiz na barbearia e na sequência da primeira fornada de tortas humanas são impecáveis. As vozes de Depp e Alan Rickman fundindo-se e intercalando-se com os sons dos panos, da navalha e da cadeira do barbeiro aumentam um suspense que, naquele momento, já era enorme. Já o barulho do alçapão em cortes rápidos, entre uma batida e outra da faca de Mrs. Lovett, dá um ritmo quase dançante à hora da matança.
Em sua cadência perfeita, Sweeney Todd se revela um dos melhores musicais produzidos em Hollywood nos últimos anos. Mas dentro de um universo burtiano povoado de seres à margem da beleza, de ícones imperfeitos como Beetlejuice, Edward Mãos-de-Tesoura talvez não exista lugar para esse tipo de perfeição.
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